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Já foi ilha mas o passar dos anos fez com que se desse o assoreamento daquela que é hoje a península de Peniche. O povoamento da região foi iniciado no tempo de D. Afonso Henriques, quando este concedeu a um cruzado a "herdade de Touguia". Por essa a actual Atouguia da Baleia era um porto, defronte do qual existia a ilha de Peniche. Os séculos foram passando e o progressivo assoreamento deu a Peniche a configuração que tem hoje.
Feita de estórias e de mar, nem o passar dos anos fez esquecer a velha lenda dos "amigos de Peniche". A marina é palco diário do vaivém constante das traineiras e dos homens do mar que fazem da venda do carapau e da sardinha o seu sustento. Sempre vigilante, lá se mantém o imponente forte, hoje museu. Todos os anos, este mesmo forte assiste ao desfile nocturno de barcos engalanados naquela que é a mais popular festa de Peniche em honra de Nossa Senhora da Boa Viagem. Mas enquanto o sol espreita, é de aproveitar as praias de Peniche e dos arredores, que vão desde as de areia fina do Baleal às terapêuticas da Consolação. Um passeio até ao segundo ponto mais a ocidente da Europa -o Cabo Carvoeiro - e uma viagem à magnífica ilha da Berlenga são percursos a não perder
Peniche é a cidade mais ocidental da Europa, o maior porto de pesca tradicional de Portugal e um grande centro atlântico de actividades turístico-marítimas.Junto ao forte o antigo porto mantém o pitoresco das zonas de faina piscatória. Bem perto ficam o Baleal, a costa rendilhada do Cabo Carvoeiro e as pequenas ilhas Berlengas, que pode demandar de barco a partir de Peniche. Se o Baleal é conhecido pelos célebres tubos tão do agrado dos surfistas, não se fique apenas pela praia, pois a pequena aldeia alcandorada sobre uma minúscula península é do mais encantador.
A sua especificidade geo-morfológica, oscilando entre uma realidade insular / peninsular, parece ter moldado e condicionado de um ponto de vista socio-económico e cultural, as populações que ao longo dos tempos ocuparam este território, permitindo simultaneamente que o concelho de Peniche fosse palco de importantes acontecimentos históricos de índole nacional e internacional.
O nome Peniche parece derivar da palavra latina peninsula (paene + insula) que à letra significa quase ilha . Esta origem, aparentemente comprovada pela documentação histórica conhecida, aponta para um quadro cíclico de maior ou menor insularidade desde território, realidade porventura variável de acordo com o ritmo das marés, e cuja memória se terá perpetuado num topónimo que, por força da utilização oral, evoluiu para o seu termo actual: Peniche.
Desde cedo que esta região estremenha parece ter despertado o interesse das comunidades paleolíticas de caçadores-recolectores que perante a diversidade de recursos disponibilizados aqui se terão fixado. As principais estações pré-históricas conhecidas no concelho correspondem a ocupações em gruta, conhecendo-se um importante conjunto de sítios na zona Sudoeste do concelho, no Planalto das Cesaredas
Porém a mais importante estação pré-histórica do concelho é a Gruta da Furninha. Estação hoje localizada junto ao mar, foi ocupada entre o Paleolítico Médio e o final do Calcolítico, tendo sido escavada em 1880 pelo estudioso Joaquim Nery Delgado. Esta gruta, ocupada durante o Paleolítico, como abrigo, e durante o Neolítico e a Idade do Cobre, como necrópole, forneceu um vasto espólio arqueológico, no qual se destacam: vestígios osteológicos de vários hominídeos, nomeadamente do Homo Sapiens (Homem de Neandertal) e de Homo Sapiens Sapiens (Homem actual); vestígios de fauna do período quaternário (peixes e mamíferos); utensílios líticos (bifaces, pontas de seta, ou machados de pedra polida); utensílios em osso; e várias peças de cerâmica neolítica (os célebres vasos de suspensão da Gruta da Furninha) Durante a época romana assiste-se à consolidação de uma economia assente no cultivo das férteis terras aluviais contíguas ao Rio de S. Domingos e à Ribeira de Ferrel, e na exploração de recursos estuarinos e marinhos. Esta última componente parece ter assumido especial importância como parece demonstrar a descoberta junto ao Murraçal da Ajuda (Peniche), de um complexo oleiro que terá laborado no séc. I d.c. do qual se conhecem-se quatro fornos, e que se teria dedicado principalmente à produção de ânforas destinadas ao envase de preparados de peixe. A então ilha de Peniche assentaria a sua actividade económica na exploração de recursos marinhos, particularmente na produção de conservas de peixe. Actividade industrial que volvidos dois mil anos continua a laborar nesta terra piscatória. A presença romana parece também estar atestada no Arquipélago das Berlengas. Hoje reserva natural, a ilha da Berlenga viu na antiguidade as suas águas abrigadas serem fundeadas por embarcações romanas, facto demonstrado pela identificação e recuperação nestas águas de cerca de uma vintena de cepos de âncora em chumbo e de várias ânforas romanas. Para a Idade Média as fontes históricas falam de uma ilha de Peniche integrada na esfera económica e administrativa da importante herdade e depois vila de Atouguia da Baleia. Esta localidade, hoje situada no interior do território a alguma distância do mar, conheceu durante a Idade Média um grande desenvolvimento económico mercê do seu porto, considerado à época de D. Dinis um dos portos mais importantes do reino. Este florescimento económico possibilitado por uma rentável actividade piscatória, assente na captura de espécies como baleia (cetáceo que aliás dá o nome à vila) permitiu a autonomia administrativa deste território face à vizinha povoação de Óbidos. Esta autonomia é concretizada em 1158 quando D. Afonso Henriques concede em Foral a então herdade de Touguia a Guilherme de Corni, cruzado franco que terá servido este monarca na tomada de Lisboa. Se até ao séc. XVI a pouco povoada ilha de Peniche terá vivido na esfera económica e administrativa da Vila de Atouguia da Baleia, a partir deste período, com a lenta formação do actual cordão dunário que liga Peniche ao continente e com o consequente assoreamento do porto de Atouguia da Baleia, assiste-se ao desenvolvimento da jovem povoação de Peniche, elevada em 1609 à categoria de vila e sede de concelho, autonomizando-se de Atouguia da Baleia. Este crescimento urbano, resultante do progressivo aumento do número de moradores na povoação, foi proporcionado pela intensa exploração dos recursos económicos disponíveis na península de Peniche, destacando-se a vigência de uma agricultura assente no cultivo dos cereais e da vinha, e, obviamente, a pesca.