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CASA DE ALFENA - TRAVASSOS, PÓVOA DE LANHOSO
Edificada no século XVIII e adaptada a turismo de habitação, a Casa de Alfena integra um património de família de ourives presente no Museu do Ouro. Este conjunto oferece um espaço de jardim, eira, pátios, quedas de água e uma piscina refrescante.
Construída em 1860, por José da Silva, um abastado comerciante de ourivesaria, e trisavô dos actuais proprietários, a Casa de Alfena representa um espólio de tradição na história do fabrico da filigrana em Portugal. Em finais da década de 40 do século passado, as actividades de fabrico e comercialização do ouro da família são unidas sob a responsabilidade de Adelino António Rebelo. A empresa familiar cresce significativamente, beneficiando da prosperidade dos mineiros do volfrâmio, nas zonas de Basto e Barroso.
Este conjunto de edifícios rurais e antigas oficinas de ourivesaria localiza-se na aldeia de Travassos, em Póvoa de Lanhoso, nas margens do rio Ave, próximo das Termas do Gerês, no Parque Nacional Peneda-Gerês, proporcionando experiências de descoberta da natureza.
Aldeia de Baixo - Travassos
A Casa de Alfena é uma casa solarenga do século XVIII, agregada a um conjunto de edifícios rurais e antigas oficinas de ourivesaria, que foram adaptados a uma unidade de turismo de habitação e a um museu do ouro.
A Casa de Alfena só acabou de ser construída em 1860, quando José da Silva, um abastado comerciante de ourivesaria, e trisavô dos actuais proprietários, Francisco de Carvalho e Sousa e Maria Idalina Carvalho de Sousa, lhe acrescentou o imponente portal.
Em finais da década de 40, as várias actividades de fabrico e comercialização do ouro da família são integradas numa mesma empresa, sob a responsabilidade de Adelino António Rebelo, o então proprietário da Casa de Alfena. É também neste período que a empresa consegue crescer significativamente, beneficiando da prosperidade quase instantânea de muitos mineiros do volfrâmio, nas zonas de Basto e Barroso.
A Casa de Alfena apresenta-se, assim, não apenas como uma construção do século XVIII, mas como o eixo de rotação de uma família com tradição e ligação profunda à actividade do fabrico e comercialização do ouro, e à agricultura. Está localizada na aldeia de Travassos, uma aldeia-oficina com tradição no fabrico da filigrana, nas margens do rio Ave.
A ideia da criação de um Museu do Ouro resulta dos esforços do proprietário, ourives, que ao longo de cinquenta anos de actividade, foi recolhendo espólio e documentação.
A eira, os jardins bem cuidados, e as quedas d'água e fontes a rodear a piscina dão um ambiente sereno a esta casa que convida à preguiça e a retemperar forças.
A proximidade das Termas do Gerês e do Parque Nacional da Peneda-Gerês, com os seus setenta mil hectares de reserva ecológica e paisagens de cortar a respiração, onde se juntam os aspectos etnográficos e arqueológicos, fazem desta casa um lugar privilegiado para descobrir a região.
In Solares de Portugal A arte de bem receber , Edições INAPA, 2007
HISTORIAL
A Casa de Alfena é, na sua globalidade, uma construção do início do século XVIII, que só acabou de ser construída em 1860, quando José da Silva - trisavô dos actuais proprietários, Francisco de Carvalho e Sousa e Maria Idalina Carvalho de Sousa - lhe acrescentou o imponente portal. Originalmente, tinha quatro grandes salas, com tectos estucados e decorados com motivos alegóricos das quatro estações do ano. As portas e os armários eram em castanho maciço profusamente ornamentados.
Esta casa, contígua à antiga estrada real que ligava Braga a Cabeceiras de Basto, deve o seu nome à alcunha do proprietário - "O Alfena". Embora não existam fontes documentais, a oralidade popular indica que tal alcunha poderá derivar da localização do imóvel, visto que na mesma área existia já na altura uma construção rural comummente conhecida como Alfena Velha. Assim, poder-se-á deduzir que José da Silva terá passado a ser conhecido como "O Alfena" depois de residir numa área já conhecida por esse nome.
José da Silva era um abastado comerciante de ourivesaria, conhecido pela sua actividade política em apoio da Monarquia Constitucional. Os seus laços de amizade com assessores do Rei levavam-no com frequência a Lisboa, onde muitas vezes intercedia pela resolução de problemas que afectavam a região.
O conturbado período que o país atravessava na altura terá por certo contribuído para a sua decisão de construir na casa uma zona secreta, num piso inferior ao da chamada "sala da manta". Efectivamente, debaixo de uma manta, na sala principal da casa, escondia-se um alçapão que funcionava como único acesso a um quarto. Essa dependência era usada para esconder amigos em apuros ou jovens da terra que desejavam fugir à conscrição militar. Segundo testemunho oral de Maria Elisa Barbosa de Carvalho (bisneta do Alfena), cada macebo que evitava as autoridades agradecia o favor com o lançamento de uma dúzia de foguetes.
Do seu primeiro casamento, o proprietário da Casa de Alfena, José da Silva, teve uma filha, lnácia Rosa da Silva, que viria a casar com Francisco António de Carvalho. A arte da ourivesaria - fabrico e comércio - seria, assim, passada de sogro para genro, embora não tenha sido acompanhada por qualquer património. Aliás, por dificuldades financeiras, José da Silva foi mesmo forçado a vender a Casa de Alfena a José do Órfão.
O negócio de Francisco António de Carvalho (1841-1904) terá, assim, recomeçado com a ajuda do velho criado da casa, Tomás, que lhe cedeu as poupanças de toda a sua vida: cinco libras de ouro. A sua seriedade, nobreza de sentimentos e o espírito empreendedor trouxeram-lhe sucesso e a actividade expandiu-se para além das fronteiras nacionais. Os livros de registo de clientes da empresa (ainda em posse da família) provam precisamente a amplitude das relações comerciais, com referências frequentes a clientes fixos nas cidades espanholas de Ciudad Rodrigo e de Burgos.
Paralelamente, Francisco António de Carvalho desenvolveu também intensa actividade política, tendo sido vereador da Câmara Municipal da Póvoa de Lanhoso, em quatro mandatos.
Do seu casamento com lnácia Rosa da Silva nasceram cinco filhos, tendo apenas sobrevivido o mais novo, José Joaquim de Carvalho.
A prosperidade de Francisco António de Carvalho terá permitido que o seu filho terminasse os estudos liceais em Braga, onde foi colega e grande amigo do botânico, folclorista e musicólogo Gonçalo Sampaio. Essa mesma prosperidade terá possibilitado a aquisição da Casa de Alfena a José do Órfão, voltando assim à família.
A privilegiada educação de José Joaquim de Carvalho (1867-1948) - casado com Elisa Augusta de Assunção Barbosa (1860-1901) - terá sido fundamental nas iniciativas que desenvolveu para dar à Casa de Alfena o carácter de pólo de dinamização cultural de Travassos.
A exemplo do que já havia acontecido com o seu pai, José Joaquim de Carvalho, foi também vereador da Câmara Municipal da Póvoa de Lanhoso, exercendo dois mandatos que coincidiram com o fim da Monarquia em Portugal (1905-1908 e 1908-1910).
Dos seis filhos, cinco continuaram ligados ao mundo da ourivesaria, mas só um deles, Maria da Conceição de Carvalho Rebelo (1899-1985), herdou a Casa de Alfena. O seu marido, Adelino António Rebelo (l900-1986) - fabricante de ourivesaria também natural de Travassos - inicia, em 1918, um negócio de comercialização de ouro, sobretudo em feiras como as de Ruivães, Vieira do Minho, Cabeceiras de Basto, Venda Nova e Salto.
Em finais da década de 40, as várias actividades de fabrico e comercialização do ouro da família são integradas numa mesma empresa, sob a responsabilidade de Adelino António Rebelo, o proprietário da Casa de Alfena. É também neste período que a empresa consegue crescer significativamente, beneficiando da prosperidade quase instantânea de muitos mineiros do volfrâmio, nas zonas de Basto e Barroso.
Grande apreciador das actividades agrícolas e naturalista, Adelino António Rebelo aproveitou a oportunidade de uma reconstrução forçada da Casa de Alfena, para a adaptar também para uso agrícola. Assim, converteu umas antigas oficinas de ourivesaria em lagares de vinho e arrecadação de cereais. Adaptou o piso térreo da casa para adega e mandou ainda construir um coberto e um canastro. Desta forma, tirava melhor partido das propriedades agrícolas que entretanto herdou e adquiriu.
A não existência de descendentes directos, faz de Francisco de Carvalho e Sousa - seu sobrinho, filho de Maria Elisa Barbosa de Carvalho (1897-1989) e de Francisco Ferreira de Sousa (1902-1975) - o continuador da actividade da ourivesaria, actual sócio-gerente maioritário da empresa "Alfena - Ourivesaria de Travassos, Lda.".
Em conjunto com sua irmã, Maria Idalina Carvalho de Sousa, Francisco de Carvalho e Sousa é actual proprietário da Casa de Vila Nova, da Alfena Velha e da Casa de Alfena e ainda de um conjunto de edificações que serão transformadas no Museu do Ouro.
A história familiar e a envolvência paisagística dão a este todo um valor acrescentado. A Casa de Alfena apresenta-se, assim, não apenas como uma construção do século XVIII, mas como o eixo de rotação de uma família com tradição no Baixo Minho e com ligações profundas à actividade do fabrico e comercialização do ouro e à agricultura.